segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Eco-Noticias

23 de julho de 2007
Necrocombustíveis
Frei Betto
O prefixo grego bio significa vida; necro, morte. O combustível extraído de plantas traz vida? No meu tempo de escola primária, a história do Brasil se dividia em ciclos: pau-brasil, ouro, cana, café etc. A classificação não é de todo insensata. Agora estamos em pleno ciclo dos agrocombustíveis, incorretamente chamados de biocombustíveis.
Este novo ciclo provoca o aumento dos preços dos alimentos, já denunciado por Fidel Castro. Estudo da OCDE e da FAO, divulgado a 4 de julho, indica que "os biocombustíveis terão forte impacto na agricultura entre 2007 e 2016." Os preços agrícolas ficarão acima da média dos últimos dez anos. Os grãos deverão custar de 20 a 50% mais. No Brasil, a população pagou três vezes mais pelos alimentos no primeiro semestre deste ano, se comparado ao mesmo período de 2006.
Vamos alimentar carros e desnutrir pessoas. Há 800 milhões de veículos automotores no mundo. O mesmo número de pessoas sobrevive em desnutrição crônica. O que inquieta é que nenhum dos governos entusiasmados com os agrocombustíveis questiona o modelo de transporte individual, como se os lucros da indústria automobilística fossem intocáveis.
Os preços dos alimentos já sobem em ritmo acelerado na Europa, na China, na Índia e nos EUA. A agflação - a inflação dos produtos agrícolas - deve chegar, este ano, a 4% nos EUA, comparada ao aumento de 2,5% em 2006. Lá, como o milho está quase todo destinado à produção de etanol, o preço do frango subiu 30% nos últimos doze meses. E o leite deve subir 14% este ano. Na Europa, a manteiga já está 40% mais cara. No México, houve mobilização popular contra o aumento de 60% no preço das tortillas, feitas de milho.
O etanol made in USA, produzido a partir do milho, fez dobrar o preço deste grão em um ano. Não que os ianques gostem tanto de milho (exceto pipoca). Porém, o milho é componente essencial na ração de suínos, bovinos e aves, o que eleva o custo de criação desses animais, encarecendo derivados como carne, leite, manteiga e ovos.
Como hoje quem manda é o mercado, acontece nos EUA o que se reproduz no Brasil com a cana: os produtores de soja, algodão e outros bens agrícolas abandonam seus cultivos tradicionais pelo novo "ouro" agrícola: o milho lá, a cana aqui. Isso repercute nos preços da soja, do algodão e de toda a cadeia alimentar, considerando que os EUA são responsáveis por metade da exportação mundial de grãos.
Nos EUA, já há lobbies de produtores de bovinos, suínos, caprinos e aves pressionando o Congresso para que se reduza o subsídio aos produtores de etanol. Preferem que se importe etanol do Brasil, à base de cana, de modo a se evitar ainda mais a alta do preço da ração.
A desnutrição ameaça, hoje, 52,4 milhões de latino-americanos e caribenhos, 10% da população do Continente. Com a expansão das áreas de cultivo voltadas à produção de etanol, corre-se o risco dele se transformar, de fato, em necrocombustível - predador de vidas humanas.
No Brasil, o governo já puniu, este ano, fazendas cujos canaviais dependiam de trabalho escravo. E tudo indica que a expansão dessa lavoura no Sudeste empurrará a produção de soja Amazônia adentro, provocando o desmatamento de uma região que já perdeu, em área florestal, o equivalente ao território de 14 estados de Alagoas.
A produção de cana no Brasil é historicamente conhecida pela superexploração do trabalho, destruição do meio ambiente e apropriação indevida de recursos públicos. As usinas se caracterizam pela concentração de terras para o monocultivo voltado à exportação. Utilizam em geral mão-de-obra migrante, os bóias-frias, sem direitos trabalhistas regulamentados. Os trabalhadores são (mal) remunerados pela quantidade de cana cortada, e não pelo número de horas trabalhadas. E ainda assim não têm controle sobre a pesagem do que produzem.
Alguns chegam a cortar, obrigados, 15 toneladas por dia. Tamanho esforço causa sérios problemas de saúde, como câimbras e tendinites, afetando a coluna e os pés. A maioria das contratações se dá por intermediários (trabalho terceirizado) ou "gatos", arregimentadores de trabalho escravo ou semi-escravo. Após 1850, um escravo costumava trabalhar no corte de cana por 15 a 20 anos. Hoje, o trabalho excessivo reduziu este tempo médio para 12 anos.
O entusiasmo de Bush e Lula pelo etanol faz com que usineiros alagoanos e paulistas disputem, palmo a palmo, cada pedaço de terra do Triângulo Mineiro. Segundo o repórter Amaury Ribeiro Jr, em menos de quatro anos, 300 mil hectares de cana foram plantados em antigas áreas de pastagens e de agricultura. A instalação de uma dezena de usinas novas, próximas a Uberaba, gerou a criação de 10 mil empregos e fez a produção de álcool em Minas saltar de 630 milhões de litros em 2003 para 1,7 bilhão este ano.
A migração de mão-de-obra desqualificada rumo aos canaviais - 20 mil bóias-frias por ano - produz, além do aumento de favelas, o de assassinatos, tráfico de drogas, comércio de crianças e de adolescentes destinados à prostituição.
O governo brasileiro precisa livrar-se da sua síndrome de Colosso (a famosa tela de Goya). Antes de transformar o país num imenso canavial e sonhar com a energia atômica, deveria priorizar fontes de energia alternativa abundantes no Brasil, como hidráulica, solar e eólica. E cuidar de alimentar os sofridos famintos, antes de enriquecer os "heróicos" usineiros.
(Artigo publicado em Agência de Notícias da América Latína e Caribe -Adital, em 20 de julho de 2007)
Frei Betto é dominicano e escritor.





MEDIO AMBIENTE-APA SANTO ANTONIO-BA

FOLH@ JACUMA- INFORMATIVO APA SANTO ANTONIO
Nº2- Agosto 2007 Edição: Patricia Grinberg


EDITORIAL
BRASIL: CAMPEAO MUNDIAL...EM BIODIVERSIDADE
O Brasil tem em seu território entre 15% e 20% da biodiversidade do planeta .

O Brasil e campeão do mundo. É o que digo as crianças nas aulas de Educação Ambiental. Campeão em futebol, vôlei, formula I? Pode ser, mas aqui vamos falar em BIODIVERSIDADE, diversidade de vida, incluindo ao homo sapiens e suas raças em perigo de extinção. É a maior “copa do mundo” que um território possa ter nestes tempos, onde a água potável vale mais que o petróleo, onde as plantas medicinais estão substituindo drogas químicas nas pesquisas cientificas, os alimentos produzidos sem agrotóxicos nem sementes transgenicas são supervalorizados nos paises do Norte e as paisagens naturais são reconhecidas como patrimônio da humanidade.
É por causa dessa biodiversidade que os “investidores” estão amarrando as suas caravelas nos portos deste país (existem, claro, outros pontos de atração, como mão de obra, terra e matérias primas baratas em eurodólares). No Extremo Sul da Bahia, desde onde escrevemos esta crônica, foram descobertas mais de 450 espécies vegetais por hectare, um grau de BIODIVERSIDADE dos maiores do mundo.
Falta ainda articular os meios políticos, socioeconômicos e sócio-ambientais para que as comunidades possam se apropriar das reservas de água, as terras férteis, as bordas dos tabuleiros, as praias, para que as riquezas naturais, não sejam um tesouro intocável para o cidadão comum, ou reservado as transnacionais, mansões de veraneio, resorts e monoculturas. Somente assim, com uma eqüitativa distribuição dos ganhos da biodiversidade, esses cidadãos compreenderão a necessidade de preservar.
No dia 14 de agosto passado, no cine-teatro da cidade de Belmonte, no Extremo Sul da BA, assistimos a uma interessante polemica durante a reunião ordinária do Conselho Gestor da APA (Área de Proteção Ambiental) Santo Antonio. O Ministério de Meio Ambiente apresentou os estudos preliminares para a formação de uma nova Unidade de Conservação na região, pelo seu enorme valor biológico. A APA é uma UC de uso sustentável estadual que só abrange a área litorânea e o projeto do MMA, ainda em elaboração, propõe preservar também a, o platô da margem oeste da APA, rico em áreas de Mata Atlântica em regeneração, dando prioridade onde se localizam as nascentes dos rios.
As reuniões do CG não superam geralmente a dúzia de pessoas, mesmo quando se trataram assuntos de grande importância como a erosão costeira na charmosa vila de Mogiquiçaba (Belmonte) e a possível influencia do porto da Veracel Celulose, vizinho a vila, nesse processo que no inverno passado assustou aos moradores a ponto de sair pelas noites de maré alta das casas localizadas na faixa costeira.
Mas desta vez a casa estava cheia, com presença de gestores dos dois municípios que abrange a APA (Belmonte e Santa Cruz Cabralia), empresários, consultores ambientais, lobistas e moradores da cidade. Lá estavam os empresários portugueses do empreendimento Luso Brasil, que estão em fase de solicitação de mudança de zoneamento da APA para implantação do mega-projeto turístico Fazenda Ondina na orla de Belmonte (hotéis, pousadas, condomínio, campos de golf), em área majoritariamente de Zona de Proteção Rigorosa, com possíveis intervenções em áreas alagadiças. José Francisco Junior, da SEMARH, ressaltou na reunião de dezembro passado do CG que o re-zoneamento implicaria “o uso de áreas de proteção permanentes para instalar campos de golfe, rebaixamento da lâmina d’água para fins paisagísticos e compromissos de contenção de futuras inundações junto a comunidades de Belmonte, a partir destas propostas de perenização de cursos d’água que são perigosos, pelas implicações legais que geram”.
A reunião em Belmonte começou com a exposição do consultor do MMA, Jean François Timmers, quem explicou o porque do projeto de Ampliação das UCs de Proteção Integral no Sul da BA: se em outras áreas de Mata Atlântica o remanescente é do 7 % da superfície original, nesta região essa sobrevivência da mata é só da metade desse já escasso sete por cento, pois o Extremo Sul da BA foi uma das áreas “mas intensamente desmatadas”, inclusive no período de 1996/2005.
A continuação, vários oradores falaram de “ditadura ambiental” (secretario de Turismo de Belmonte, Sr Heráclito) e das necessidades do “bicho homem”. O prefeito Sr Iedo destacou que Belmonte “está sedento de investimentos” devido ao alto índice de desemprego no antigo porto de exportação de cação. Outros oradores perguntaram ao consultor quantos empregos ia produzir a nova Unidade de Conservação e acusaram aos órgãos ambientais de estar freando o mega-projeto da empresa Luso-Brasil para o município. Em digna solidão, o secretario de Meio Ambiente de Belmonte, Alberto Rocha, refletiu que o desemprego é “um problema estrutural do capitalismo” e não conseqüência da preservação ambiental.
O povo brasileiro sempre se destacou pelo seu orgulho e auto-estima, mas as necessidades básicas tiram a força desses pilares desta terra. Atrair investimentos para criar fontes de trabalho? Ótimo! Mas deve o Brasil ajoelhar-se perante os investidores? Devem eles adaptar-se as leis do pais, o vice-versa: a legislação ambiental com tanta luta conquistada deve amoldar-se as necessidades do capital? Quem se ajoelha, tem que rezar... Ocorreu na vizinha terra de Argentina durante o governo Menem: quem ditava as leis eram os “investidores”, e o país pagou as conseqüências quando os capitais “andorinha” retornaram as Islãs Caiman, o desemprego chegou aos índices históricos mais altos da historia e grande parte do território se extranjerizou, a ponto do grupo empresário Benetton possuir um milhão de hectares na Patagônia, fechando as fontes de água potável e os caminhos tradicionais dos indígenas mapuches.
Os oradores, compreensivelmente mobilizados pelas promessas de emprego dos empresários, reproduziram as queixas destes de “ditadura ambiental” e de uma suposta onipresencia estatal na APA. Não é a realidade que vivemos dia a dia: o governo estadual não investe recursos nem vontade política dos seus gestores em monitoramento e fiscalização das áreas de proteção, onde a “ditadura” parece mas vir dos depredadores que do Estado, com supostas violações ao zoneamento que não são prevenidas nem penalizadas. O IBAMA, já escasso de infra-estrutura e recursos, confronta agora a decisão de ser desmembrado e fragilizado pela Medida Provisória 366/2007 do Presidente da República.
Qual é a justificativa dos órgãos? (verdadeira, reconhecemos): falta de recursos, funcionários, combustível. É a queixa habitual que nós, voluntários, ouvimos dia trás dia. Mas se um eco-chato, desses tão criticados e até hostilizados pelos lobistas e empresários, vai de carona a esses encontros, com só um trocadinho para merenda no bolso, será que é tão impossível assim para os representantes desses órgãos tentar cumprir a tarefa pela qual são pagos por cidadãos como o pedreiro que pedala 5 quilômetros com a marmita na bicicleta para chegar ao canteiro de obras?
Será que as leis estão ai para serem cumpridas somente por esse cidadão pé no chão e não pelos “investidores” e pelos representantes do Estado cada vez mas ausente, e não onipresente como querem fazer ver aqueles discursos?
O eco-chato deste relato, aquele que fica na estrada esperando carona para ir as reuniões, vendo autos oficiais pagos pelo cidadão passando na frente e fazendo que não o viu, porque um chato a menos na reunião para eles é lucro, esse voluntário, é pressionado por todos os lados: pelos empreendedores, pelos órgãos ambientais omissos, e até pelas “ongs” que gerenciam junto ao MMA os Corredores Ecológicos e outros grandes projetos, financiados pelos próprios poluidores que só admitem ambientalistas “profissionais” e “politicamente corretos”.
Os cidadãos comuns ficam no meio, abandonados pelos órgãos ambientais, chantajeados pelos “investidores” (com a falsa dicotomia de depredação ambiental ou desemprego) e desinformados pelos meios de comunicação e até por parte do terceiro setor, que distribui migalhas dos financiamentos de grandes projetos e atua como encobridor.
Tal vez esses cidadãos deveriam perguntar-se, não somente quantos empregos poderá criar a proteção do que resta do restante das matas do Extremo Sul da BA , mas, como aquele índio sioux do século XIX, se o ar, os rios, as arvores podem ser cotizados na bolsa de valores (o mercado de carbono já esta fazendo isso com o ar). A pergunta poderia ser como serão distribuídos os ganhos materiais da preservação dessa biodiversidade, explorada hoje por trasnacionais e grandes ongs satélites das mesmas, que poderiam investir mais recursos em agricultura familiar, pesca artesanal, mariscagem, eco-turismo e outros projetos de fortalecimento institucional para as comunidades do seu entorno. Pois dinheiro é necessário, e como é. Mas dinheiro não se come, e um campeão mundial tem uma vantagem: pode escolher em que time jogar, e as condições do contrato.
Patricia Grinberg
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VERACEL-ACIDENTE NA FABRICA

Um acidente na fábrica da Veracel Celulose ,registrado no dia 28 de agosto passado, causou a morte do funcionário Carlos Henrique do Carmo, de 43 anos de idade, segundo informação oficial da empresa transmitida à imprensa.
O breve comunicado da Veracel indica que o funcionário pertencia a Aliança Florestal, que presta serviços a empresa em manutenção de equipamentos. O comunicado não subministra detalhes do acidente, que não seria o primeiro desde que a fábrica entrou em operações.
No dia 30 de março passado, durante a manutenção de uma das caldeiras de branqueamento de celulose, três operários de uma empresa terceirizada da Veracel teriam sofrido queimaduras e outros oito intoxicação, supostamente por excessivo tempo de exposição ao sulfato de sódio, segundo uma denuncia do Diretor de Relações de Trabalho do Sindicato de Trabalhadores na Construção de Estradas e Manutenção Industrial (SINTEPAV), Fernando Correia dos Santos. Os operários são empregados da empresa Depran Montagem e Manutenção. A empresa não respondeu um questionário desta cronista sobre esse acidente.
Desde a inauguração da fábrica, o sócio- ambientalista Antonio Ormundo vem expondo em diferentes forums a necessidade de instalar conselhos de Defesa Civil nas quatro cidades do entorno da fabrica por sofrer influencias diretas florestal e fabril e um terminal marítimo inter-estadual. . Esta solicitação foi formalizada por Ormundo, em representação da Associação da Cidadania e Transparência da Terra Mãe (ACTTM) no dia 30 de agosto, em um forum realizado em Texeira de Freitas, com participação de organizações ambientalistas e representantes das empresas de celulose do Extremo Sul da BA, como Aracruz Veracel e Suzano.

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AGENDA:

-A próxima reunião do CG da APA Santo Antonio está marcada para o dia 4 de setembro, as 9 hs, na Casa de Belmonte em Santa Cruz Cabralia.
Da pauta da reunião passada, ficou pendente de debate o assunto “Problemas ambientais na APA”, que deverá ser analisado neste encontro.
- No dia 15-09 se realizará na cidade de Canavieiras um encontro solicitado pela comunidade pesqueira e marisqueira e a Pastoral da Pesca ao secretario de Meio Ambiente da BA, Juliano Matos, com a participação da SEMARH, CRA, IBAMA, Bahia Pesca, SEAP, colônias, cooperativas e todos os interessados em discutir a grande problemática que vem sofrendo essas comunidades fixas e tradicionais com o deterioro de um eco-sistema tão importante como o manguezal.
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Solicitamos: aos parceiros que disponham de Internet e impressora, imprimir uma copia para passar aos conselheiros e interessados que não tem acesso a esse equipamento.
Para receber este Boletim envie uma mensagem a ecomercosur@yahoo.com.br
com o assunto “Assinatura Boletim APA”
Para deixar de receber este Boletim envie mensagem com assunto “Cancelar Assinatura Boletim APA”

ההה
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Contos para crianças (até 105 anos)

CONTO
O GIGANTE QUE TROCAVA ARVORES POR OURO

Havia uma vez um gigante em procura de um lugar onde morar. Achou uma bela floresta, perto do mar, e gostou. “Aqui construirei meu castelo”, pensou. Mas perto da floresta havia uma vila pequena e pacata, e quando os seus moradores souberam que um gigante estava por perto, ficaram aterrorizados. O gigante começou a construção do castelo, mas para isso precisava derrubar muitas árvores. Mortos de medo, os moradores do povoado decidiram enviar uma comissão para falar com o grandalhão. “Ele está acabando com nossa floresta”, se queixavam, com razão, as pessoas que haviam nascido e crescido nessa terra abençoada por Deus.
A reunião aconteceu e o gigante fez uma proposta. “Por cada árvore derrubada, os darei dez moedas de ouro”, pois o gigante era muito rico. Os olhos dos moradores se arregalaram, quando ouviram a palavra “ouro”. Só dois ou três tiveram a coragem de falar:
- As árvores não tem preço, senhor; gastaremos o ouro e quem nos devolverá nossa floresta, as suas nascentes de água fresca, os pássaros, a música que o vento faz quando passa pelos caules?
E Jurema, uma menina da roça, tremendo de medo, deu um passo à frente e disse:
- Ouro não se come! Nós sobe as árvores e apanha frutas.

Mas a palavra “ouro” sôo mais alto que a palavra “vida”. E as pessoas da vila aceitaram. O gigante cumpriu a sua palavra.
Em pouco tempo, da floresta só ficou um deserto, com um imenso castelo no meio, mas os moradores tinham ouro e casas novas, televisão, ruas calçadas e ate um shoping-center.
A primavera chegou, mas os pássaros não cantaram, a água das nascentes não descia, o vento arrasava a terra plana sem fazer música. Os moradores olharam suas bolsinhas cheias de moedas de ouro, e sentiram tristeza. E ate o gigante, no seu luxuoso castelo no meio do nada, ficou triste. E chorou.

Patricia Grinberg